O “convidado” de hoje é o Comandante Jorge Martins da Cruz que comandou o “Creoula” de 22 de Abril de 2003 a 15 de Março de 2006. Aqui ficam as suas palavras, sempre muito amigas, sobre o SMM e o projecto da sua recuperação.É um dos nossos Incondicionais!
Qual a importância que atribui à recuperação do Santa Maria Manuela?
Dificilmente poderei expressar a importância que para mim assume o processo de recuperação do “Santa Maria Manuela”. Ver renascer e ganhar forma e alma o irmão mais velho do nosso “Creoula” é uma realidade que excede as minhas maiores expectativas. Para mim, que só naveguei no “Creoula” numa época em que ele era já o único testemunho vivo da história da pesca do bacalhau à linha, é de facto uma ideia fascinante a de saber que, dentro em breve, poderemos contemplar uma imagem que se me afigurava irreal – a do “Creoula” a navegar, ladeado por outro dos nossos bacalhoeiros da frota “branca” - e, que, mais do que um antigo companheiro, se trata do próprio irmão gémeo, aquele que foi lançado à água no mesmo dia 10 de Maio de 1937, 10 minutos antes.
Tenho a plena consciência do quanto ficamos a dever aos promotores mais directos deste processo de recuperação. Nunca poderemos agradecer-lhes suficientemente o facto de devolverem à vida este belíssimo Navio, esta relíquia de um passado incontornável, que tanto marcou a história do nosso país. A recuperação do “Santa Maria Manuela” é um acontecimento a saudar e apoiar incondicionalmente, é uma prova de arrojo e coragem, digna de descendentes dos intrépidos marinheiros e capitães de outrora… e é mais uma oportunidade para devolver os portugueses a esse Mar onde está escrita uma parte fundamental da sua história.
Entendo a recuperação do “Santa Maria Manuela” como um efectivo enriquecimento do nosso património cultural e marítimo, tanto na óptica da valorização do passado (e como poderá avaliar-se a riqueza de fazer regressar ao Mar um antigo bacalhoeiro da nossa frota, reavivando todo o tesouro de memórias que transporta consigo e pode partilhar com as novas gerações?) – como também na óptica do futuro, constituindo uma base e um convite para, por sua vez, permitir o regresso ao Mar de muitos portugueses que aí encontrarão, para além de um elemento incontornável da sua identidade como povo, o desafio de novas perspectivas de investigação, ciência, desporto, lazer, cultura, desenvolvimento, progresso.
Parabéns a todos os que asseguram a recuperação do “Santa Maria Manuela”…espero que tenham a consciência de como é inestimável a oferta que fazem a Portugal.
Quais são as suas expectativas futuras?
Tal como quando foi construído em 1937 – situação em que era, juntamente com o seu irmão gémeo “Creoula”, o navio mais elegante, o mais bem apetrechado, o melhor desenhado para enfrentar os obstáculos da navegação em águas geladas - penso que o “Santa Maria Manuela” será novamente lançado à água para uma segunda vida particularmente promissora.
Estou convencido de que este Navio, a sua própria essência, a sua história, as suas linhas singulares, as suas múltiplas potencialidades, aliadas à excelência do plano e concepção que se impõem “por detrás” deste projecto, constituem factores que o “fadam” de modo singular para uma história de sucesso. Em terra como Museu vivo, no Mar como veleiro, base de investigação científica e de actividades náuticas, em todas as ocasiões como plataforma de aproximação das pessoas ao Mar… tenho a certeza de que o “Santa Maria Manuela” saberá, no futuro, superar todas as expectativas que hoje delineamos…e navegar sempre mais, muito “para além da Terra Nova” que constituía a sua primeira e difícil missão – e singrando, decerto, em muitas áreas, “por mares nunca dantes navegados”.
Ao “Santa Maria Manuela” e a toda a equipa que viabiliza o seu regresso ao Mar, as minhas felicitações, a minha inteira disponibilidade para tudo aquilo em que os meus préstimos possam revelar-se úteis - e os meus votos sinceros de “BONS VENTOS!”…
Comandante Jorge Martins da Cruz